Vivemos num mundo onde cada vez mais o “ter” prevalece sobre o “ser”!!! O que chamamos de capitalismo selvagem, de “mundo capitalista”.
Muitos são os fatores que podem levar o indivíduo a comprar compulsivamente e gastar além de sua capacidade de pagamento. Mas como psicólogo trabalharei com uma hipótese que leva em conta o condicionamento que tivemos em nossa infância. Trabalharei com o comportamento condicionado pelos pais ou responsáveis de que para instalar um comportamento desejado, a obediência por exemplo, existe a recompensa para o indivíduo, um prêmio, um mimo, uma concessão.
Desde cedo fomos criados com a noção de que só devemos fazer alguma coisa se formos recompensados! Nosso pai pedia:
“Filho vai comprar pão para o papai!!!!” O filho ficava meio resistente, não queria ir, resmungava! E para convencer o “filhinho” a ir até a padaria, o pai soltava a frase que provocava “um convencimento imediato: “Filho, tó o dinheiro, e pode ficar com o troco para comprar umas balas para você!” Palavrinhas mágicas “pode ficar com o troco”.
E assim fomos crescendo, só fazíamos a lição se deixasse jogar videogame, só arrumávamos o quarto de deixasse brincar com nossos amiguinhos, só lavávamos o carro se deixasse dar uma volta no quarteirão! E esse condicionamento de somente fazer algo, se ganhássemos algo em troca nos introduziu numa seara perigosa, a de sermos interesseiros, de sermos mercenários, de só fazermos o que queríamos fazer. Esse condicionamento desenvolvido, esse comportamento aprendido provoca sérias consequências no convívio social!
A vida não é assim! Temos necessariamente que conviver em sociedade! Frequentamos escolas, trabalhamos, participamos de grupos sociais variados. E nossa vontade nem sempre prevalece, muitas vezes não adianta querermos impor, dizermos que só faremos determinada coisa se ganharmos algo em troca. Essa “chantagem emocional” não tem os resultados esperados, quase sempre.
E nesse novo cenário entra em cena a frustração, a decepção, o conflito, as mágoas, o rancor. Começamos a lidar com sentimentos difíceis de digerir, de aceitar. O Reflexo disso é imediato na autoestima, que nada mais é do que a capacidade que o individuo tem de gostar de si mesmo.
O indivíduo, que na infância teve uma criação fundamentada na barganha, onde a família evitou provocar frustrações, evitou contrariar vontades, a formou um indivíduo condicionado a ter o que deseja, com isso sua tolerância a contrariedade ficou baixa, delicada, insuficiente para reagir adequadamente a “esse vazio” provocado pela contrariedade que o ambiente provoca em relação a sua vontade.
Num país como o nosso, onde a mídia cada vez mais incentiva o consumo, torna-se inevitável o individuo utilizar o “dinheiro” como uma forma de compensar suas frustrações.
Se o outro nega o prazer de conceder o que o individuo quer, esse com seu dinheiro passa a se presentear, a conceder a si esse prazer, utilizando da justificativa emocional “eu mereço!”
Então com o dinheiro fruto do seu trabalho ele passa a comprar “o chocolate” porque ele merece, afinal o dinheiro é dele! Passa a comprar “sapatos” pois merece um sapato novo, passa a comer aquele churrasco porque ele merece, independente de causar problemas a saúde, por excesso de sal, por causar problemas de pressão arterial, obesidade entre outros problemas de saúde.
E não para por aí, vez que o mesmo ocorre quando compra o carro sem ter o dinheiro suficiente para pagar a prestação, quando programa a viagem sem o planejamento de onde vai tirar o dinheiro para se manter na viagem, ou como será o pós-viagem, quando o cartão de crédito chegar e o pagamento precisar ser efetuado.
Poucos associam o descontrole financeiro a problemas de autoestima ou de outros distúrbios emocionais, como a compulsão!
A origem dessa questão precisa ser melhor investigada, cada individuo é diferente do outro, as motivações para a compra são as mais variadas possíveis. Mas uma orientação faz-se necessária para o indivíduo desenvolver o controle financeiro, a saúde financeira. Seu comportamento condicionado pode ser um sabotador para a conquista de objetivos, para uma vida melhor. Prevenir esses problemas torna-se emergente!
Os órgãos de proteção ao crédito nunca tiveram tantas pessoas inadimplentes, sem capacidade de honrar seus compromissos. Isso também acaba prejudicando o próprio sistema capitalista, pois trava a roda do consumo, provoca sofrimento, destrói famílias e afeta diretamente a autoestima, que consequentemente pode provocar desmotivação, insatisfação e até mesmo depressão.
O que você achou de abordarmos a relação existente entre a autoestima e o descontrole financeiro, trazendo como origem dessa dificuldade nossa criação, nossa relação inicial ocorrida na infância com o dinheiro, com a recompensa.
Deixe seu comentário, faça sugestões, divulgue o trabalho apresentado.
Um forte abraço,
Arnaldo Pereira dos Santos
Psicólogo e Coach