Realmente, o pós-pandemia tem reservado surpresas!
Após o pico de casos de COVID-19 passar em várias partes do mundo e as atividades ser retomadas, as empresas tem se deparado com um problema: o aumento no pedido de demissão!
A volta aos escritórios e locais de trabalho tem sofrido resistência, até certo ponto, inesperada.
Com as empresas convocando seus empregados a assumir seus postos de trabalho para que o trabalho presencial seja retomado, muitos abrem mão desse retorno.
Apesar da oferta das empresas de trabalho híbrido, folgas, benefícios suplementares, os empregados preferem continuar no home office.
Na insistência da empresa para que o empregado retorne, a resposta do empregado tem sido a apresentação da carta de demissão.
Muitos nem esperam a convocação para o trabalho presencial.
Se antecipam e comunicam seus chefes que não desejam retornar.
E que pode procurar um outro empregado para seus lugares.
Mas afinal, a que se deve essa onda de pedido de demissão num momento de crise mundial, desemprego, inflação alta?
Acredito que não seja uma única razão, um único motivo.
A duração da pandemia foi inesperada.
Em março de 2020 o pais teve o primeiro lockdown.
Era prevista a duração de 15 dias.
Mas não foram 15 dias, durou intermináveis 700 dias.
Restrições a circulação, permissão somente para atividades essenciais.
Fomos obrigados a nos adaptar às novas condições.
E por incrível que pareça, um número expressivo de pessoas se adaptaram!!!!
Perceberam que a rotina vivida até o início da pandemia era insana!
Longas jornadas de trabalho, congestionamentos intermináveis, transporte público de péssima qualidade, alimentação cara e de qualidade duvidosa, ambientes organizacionais tóxicos.
Questionaram: Como eu aguentei a minha vida inteira trabalhar desse jeito?
Explorado, desrespeitado, sugado!
Pensaram: “Agora que estou aqui no meu home office é que percebi esse desequilíbrio, essa exploração!”
E começaram a se questionar se realmente queriam voltar à antiga rotina!
Muitos perceberam que poderiam ter uma qualidade de vida melhor.
Começaram a fazer as contas.
Quanto gastavam com alimentação, transporte, tempo de trajeto casa-trabalho trabalho-casa!
Além de roupas, e outros gastos para manter o trabalho presencial.
Soma-se a tudo isso a possibilidade de liberdade, autonomia, equilíbrio emocional, flexibilidade!
Eu acredito que o home office não é para todo mundo, pois uma das condições para se dar bem no home office é gostar de liberdade, autonomia e flexibilidade.
Aqueles que se encaixam nessas condições começaram a desconfiar que seria uma coisa boa permanecer no home office.
Seria interessante, mais ou menos como um bônus, uma promoção, um prêmio por tanta dedicação à empresa e reconhecimento dos resultados entregues, permanecer no home office.
Mas a empresa insistiu para todos retornarem ao trabalho presencial.
Já pensou, voltar para a empresa, desmontar tudo, encerrar o home office…… que decepção!.!!!!!!
O investimento feito no espaço, nas mobílias, na infraestrutura de internet e rede ia ser
desativada de operação.!!!!!!!
Só de pensar nisso o empregado já começou a ficar estressado, ansioso, angustiado.
Quando a estrutura foi montada a toque de caixa, e ele começou a trabalhar, ele resistiu, achou incomodo, invasivo!
Aos poucos ele foi se acostumando.
E com o passar do tempo, ele já tinha se adaptado a ficar mais tempo com sua família, a preparar sua comida, ter seu cafezinho quentinho, ter seu pet fazendo companhia.
Almoçava na hora certa, preparava seu suco, assistia após o almoço um pouquinho de televisão ou ouvia uma boa música para relaxar.
Reservou um tempo para levar seu filho à escola, para ajudar seu filho a fazer a lição de casa.
Conseguiu conciliar a vida pessoal com a vida profissional.
Começou a se sentir melhor, mais animado, mais motivado!
E agora, com a retomada da economia, sua empresa o convoca.
Não dá opção.
Diz que precisa dele.
Essa determinação provoca profunda reflexão sobre qual decisão tomar.
Começa a questionar seu objetivo de vida, sua qualidade de vida, os benefícios entre voltar ao escritório ou continuar no home office.
E dessa reflexão vemos que o empregado mudou! Que o indivíduo pós pandemia mudou!
A pandemia fez milhões de famílias refletir sobre a vida, sobre o real motivo de lutarmos por dias melhores.
Percebemos o preço da nossa ambição por dinheiro, cargo, poder, status.
De nada valeu no enfrentamento à pandemia.
A doença sem dó, sem piedade, levou nossos entes queridos, sem direito a um abraço de despedida, sem um velório digno, sem uma ultima homenagem.
E quando podíamos fazer tudo isso, onde estávamos?
Trabalhando, trabalhando, trabalhando.
E esse pensamento começou a ter ressonância na mente do empregado.
Trabalhar é preciso, é essencial, é a nossa chance de ter uma vida produtiva, próspera e realizadora. Que não pode ser à custa do convívio familiar, de nossa vida pessoal.
O equilíbrio é necessário, é importante.
E esse pode ser um dos motivos que levem aos empregados escolher o que é melhor para suas vidas, para sua saúde física e mental.
Num gesto de coragem, decidir o que é melhor para si e não somente para o empregador, para a empresa.
Talvez seja uma quebra de paradigma, talvez seja uma questão passageira, um momento de transição.
Somente o tempo poderá responder a essa nova pergunta que aflige as áreas de recursos humanos, as empresas como um todo.
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Arnaldo Pereira dos Santos